terça-feira, 16 de outubro de 2012

Jesus no Lar - A Escola das Almas


A escola das almas 
Congregados, em torno do Cristo, os domésticos de Simão ouviram a voz suave e persuasiva do Mestre, comentando os sagrados textos.


Quando a palavra divina terminou a formosa preleção, a sogra de Pedro indagou, inquieta:
— Senhor, afinal de contas, que vem a ser a nossa vida no lar?

Contemplou-a Ele, significativamente, demonstrando a expectativa de mais amplos esclarecimentos, e a matrona acrescentou:
— Iniciamos a tarefa entre flores para encontrarmos depois pesada colheita de espinhos. 
No começo é a promessa de paz e compreensão; entretanto, logo após, surgem pedras e dissabores...

Reparando que a senhora galiléia se sensibilizara até às lágrimas, deu-se pressa Jesus em responder:
— O lar  é a escola  das  almas,  o templo  onde  a sabedoria divina nos habilita, pouco  a pouco, ao grande entendimento da Humanidade.
E, sorrindo, perguntou:
— Que fazes inicialmente às lentilha, antes de servi-las à refeição?

A interpelada respondeu, titubeante:
— Naturalmente, Senhor,  cabe-me levá-las  ao fogo para que se façam suficientemente cozidas. Depois, devo temperá-las, tornando-as agradáveis ao sabor.

— Pretenderias, também, porventura, servir pão cru à mesa?

— De modo algum — tornou a velha humilde —; antes de entregá-lo ao consumo caseiro, compete-me guardá-lo ao calor do forno. Sem essa medida...

O Divino Amigo então considerou:
— Há também  um  banquete festivo,  na  vida celestial,  onde nossos sentimentos devem servir à glória do Pai. O lar, na maioria das vezes, é o cadinho santo ou o forno preparador. O que nos parece aflição ou sofrimento dentro dele é recurso espiritual. O coração acordado para a Vontade do Senhor retira as mais luminosas bênçãos de suas lutas renovadoras, porque, somente  aí,  de  encontro  uns  com  os  outros,  examinando  aspirações  e  tendências  que  não são nossas, observando defeitos alheios e suportando-os, aprendemos a desfazer as próprias imperfeições. Nunca notou a rapidez da existência de um homem? A vida carnal é idêntica à flor da erva. Pela manhã emite perfume, à noite, desaparece... O lar é um curso ligeiro para a fraternidade que desfrutaremos na vida  eterna. Sofrimentos  e  conflitos naturais,  em seu  círculo, são lições.

A sogra de Simão escutou, atenciosa, e ponderou:
— Senhor, há criaturas, porém, que lutam e sofrem; no entanto, jamais aprendem.

O Cristo pousou na interlocutora os olhos muito lúcidos e tornou a indagar:

— Que fazes das lentilhas endurecidas que não cedem à ação do fogo?

— Ah! sem dúvida, atiro-as ao monturo, porque feririam a boca do comensal descuidado e confiante.

— Ocorre o mesmo — terminou o Mestre — com a alma rebelde às sugestões edificantes do lar. A luta comum mantém a fervura benéfica; todavia, quando chega a morte, a grande selecionadora do alimento espiritual para os celeiros de Nosso Pai, os corações que não cederam ao calor santificante, mantendo-se na mesma dureza, dentro da qual foram conduzidos ao forno bendito da carne, serão lançados fora, a fim de permanecerem, por tempo indeterminado, na condição de adubo, entre os detritos da Natureza.