segunda-feira, 18 de março de 2013

O Livro dos Espíritos - Capítulo IV: A Vida e A Morte



CAPÍTULO IV 

DO PRINCÍPIO VITAL 

1. Seres orgânicos e inorgânicos. - 2. A vida e a morte. - 3. Inteligência e instinto. 

A VIDA E A MORTE

68. Qual a causa da morte dos seres orgânicos?
“Esgotamento dos órgãos.”

a) - Poder-se-ia comparar a morte à cessação do movimento de uma máquina

desorganizada?

“Sim; se a máquina está mal montada, cessa o movimento; se o corpo está enfermo,

a vida se extingue.”

69. Por que é que uma lesão do coração mais depressa causa a morte do que as de

outros órgãos?

“O coração é máquina da vida, não é, porém o único órgão cuja lesão ocasiona a

morte. Ele não passa de uma das peças essenciais.”

70. Que é feito da matéria e do princípio vital dos seres orgânicos, quando estes

morrem?

“A matéria inerte se decompõe e vai formar novos organismos. O princípio vital

volta à massa donde saiu.”

Morto o ser orgânico, os elementos que o compõe sofrem novas combinações, de
que resultam novos seres, os quais haurem na fonte universal o princípio da vida e 
da atividade, o absorvem e assimilam, para novamente restituírem a essa fonte, 
quando deixarem de existir.
Os órgãos se impregnam, por assim dizer, desse fluido vital e esse fluido dá a todas
as partes do organismo uma atividade que as põe em comunicação entre si, nos casos de
certas lesões, e normaliza as funções momentaneamente perturbadas. Mas, quando os
elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito
profundamente alterados, o fluido vital se torna impotente para lhes transmitir o movimento
da vida, e o ser morre.
Mais ou menos necessariamente, os órgãos reagem uns sobre os outros, resultando
essa ação recíproca da harmonia do conjunto por eles formado. Destruída que seja, por uma
causa qualquer, esta harmonia, o funcionamento deles cessa, como o movimento da
máquina cujas peças principais se desarranjem. É o que se verifica, por exemplo, com um
relógio gasto pelo uso, ou que sofreu um choque por acidente, no qual a força motriz fica
impotente para pô-lo de novo a andar.
Num aparelho elétrico temos imagem mais exata da vida e da morte. Esse aparelho,
como todos os corpos da Natureza, contém eletricidade em estado latente. Os fenômenos
elétricos, porém, não se produzem senão quando o fluido é posto em atividade por uma
causa especial. Poder-se-ia então dizer que o aparelho está vivo. Vindo a cessar a causa da
atividade, cessa o fenômeno: o aparelho volta ao estado de inércia. Os corpos orgânicos são,
assim, uma espécie de pilhas ou aparelhos elétricos, nos quais a atividade do fluido
determina o fenômeno da vida. A cessação dessa atividade causa a morte.
A quantidade de fluido vital não é absoluta em todos os seres orgânicos. Varia
segundo as espécies e não é constante, quer em cada indivíduo, quer nos indivíduos de uma
espécie. Alguns há, que se acham, por assim dizer saturados desse fluido, enquanto os
outros o possuem em quantidade apenas suficiente. Daí, para alguns, vida mais ativa, mais 
tenaz e, de certo modo, superabundante.
A quantidade de fluido vital se esgota. Pode tornar-se insuficiente para a conservação da 
vida, se não for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que o contêm.
O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tiver em maior porção 
pode dá-lo a um que o tenha de menos e em certos casos prolongar a vida prestes a extinguir-se.