CAPÍTULO IV
DO PRINCÍPIO VITAL
1. Seres orgânicos e inorgânicos. - 2. A vida e a morte. - 3. Inteligência e instinto.
A VIDA E A MORTE
“Esgotamento dos órgãos.”
a) - Poder-se-ia comparar a morte à cessação do movimento de
uma máquina
desorganizada?
“Sim; se a máquina está mal montada, cessa o movimento; se o
corpo está enfermo,
a vida se extingue.”
69. Por que é que uma lesão do coração mais depressa causa a
morte do que as de
outros órgãos?
“O coração é máquina da vida, não é, porém o único órgão
cuja lesão ocasiona a
morte. Ele não passa de uma das peças essenciais.”
70. Que é feito da matéria e do princípio vital dos seres
orgânicos, quando estes
morrem?
“A matéria inerte se decompõe e vai formar novos organismos.
O princípio vital
volta à massa donde saiu.”
Morto o ser orgânico, os elementos que o compõe sofrem novas
combinações, de
que resultam novos seres, os quais haurem na fonte universal
o princípio da vida e
da atividade, o absorvem e assimilam, para novamente restituírem a essa fonte,
quando deixarem de
existir.
Os órgãos se impregnam, por assim dizer, desse fluido vital
e esse fluido dá a todas
as partes do organismo uma atividade que as põe em
comunicação entre si, nos casos de
certas lesões, e normaliza as funções momentaneamente
perturbadas. Mas, quando os
elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão
destruídos, ou muito
profundamente alterados, o fluido vital se torna impotente
para lhes transmitir o movimento
da vida, e o ser morre.
Mais ou menos necessariamente, os órgãos reagem uns sobre os
outros, resultando
essa ação recíproca da harmonia do conjunto por eles
formado. Destruída que seja, por uma
causa qualquer, esta harmonia, o funcionamento deles cessa,
como o movimento da
máquina cujas peças principais se desarranjem. É o que se
verifica, por exemplo, com um
relógio gasto pelo uso, ou que sofreu um choque por
acidente, no qual a força motriz fica
impotente para pô-lo de novo a andar.
Num aparelho elétrico temos imagem mais exata da vida e da
morte. Esse aparelho,
como todos os corpos da Natureza, contém eletricidade em
estado latente. Os fenômenos
elétricos, porém, não se produzem senão quando o fluido é
posto em atividade por uma
causa especial. Poder-se-ia então dizer que o aparelho está
vivo. Vindo a cessar a causa da
atividade, cessa o fenômeno: o aparelho volta ao estado de
inércia. Os corpos orgânicos são,
assim, uma espécie de pilhas ou aparelhos elétricos, nos
quais a atividade do fluido
determina o fenômeno da vida. A cessação dessa atividade
causa a morte.
A quantidade de fluido vital não é absoluta em todos os
seres orgânicos. Varia
segundo as espécies e não é constante, quer em cada
indivíduo, quer nos indivíduos de uma
espécie. Alguns há, que se acham, por assim dizer saturados
desse fluido, enquanto os
outros o possuem em quantidade apenas suficiente. Daí, para
alguns, vida mais ativa, mais
tenaz e, de certo modo, superabundante.
A quantidade de fluido vital se esgota. Pode tornar-se
insuficiente para a conservação da
vida, se não for renovada pela absorção e
assimilação das substâncias que o contêm.
O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele
que o tiver em maior porção
pode dá-lo a um que o tenha de menos e em certos
casos prolongar a vida prestes a extinguir-se.