quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Vida e Sexo - União Infeliz




UNIÃO INFELIZ
Qual o fim objetivado com a reencarnação? 
Expiação,  melhoramento  progressivo  da  Humanidade. 
Sem isto, onde a justiça?
                                          O LIVRO DOS ESPÍRITOS – Questão 167 



Dolorosa, sem dúvida, a união considerada menos feliz. E, claro, que não 
existe obrigatoriedade para que alguém suporte, a contragosto, a truculência ou  o 
peso de alguém, ponderando­se que todo espírito é livre no pensamento para definir­ 
se, quanto às próprias resoluções. Que haja, porém, equilíbrio suficiente nos casais
unidos pelo compromisso afetivo, para que não percam a oportunidade de construir 
a verdadeira libertação.

Indiscutivelmente, os débitos que abraçamos são anotados na Contabilidade
da Vida; todavia, antes que a vida os registre por fora, grava em nós mesmos, em
toda a extensão, o montante e os característicos de nossas faltas. A pedra que
atiramos no próximo talvez não volte sobre nós em forma de pedra, mas permanece
conosco na figura de sofrimento. E, enquanto não se remove a causa da angústia, os
efeitos dela perduram sempre, tanto quanto não se extingue a moléstia, em
definitivo, se não a eliminamos na origem do mal. Nas ligações terrenas,
encontramos as grandes alegrias; no entanto, é também dentro delas que somos
habitualmente defrontados pelas mais duras provações. Isso porque, embora não 
percebamos de imediato, recebemos, quase sempre, no companheiro ou  na
companheira da vida íntima, os reflexos de nós próprios.

É natural que todas as conjunções afetivas no mundo se nos figurem como 
sendo  encantados jardins, enaltecidos de beleza e perfume, lembrando livros de
educação, cujo  prefácio nos enleva com a exaltação dos objetivos por atingir. A
existência física, entretanto, é processo específico de evolução, nas áreas do tempo,
e assim como o aluno  nenhuma vantagem obterá da escola se não passa dos
ornamentos exteriores do  educandário em que se matricula, o espírito encarnado 
nenhum proveito recolheria do casamento, caso pretendesse imobilizar­se no êxtase
do noivado. Os princípios cármicos desenovelam­se com as horas. Provas, tentações,
crises salvadoras ou situações expiatórias surgem na ocasião exata, na ordem em que
se nos recapitulam oportunidades e experiências, qual ocorre à semente que,
devidamente plantada, oferece o fruto em tempo certo. O matrimônio pode ser 
precedido de doçura e esperança, mas isso não impede que os dias subsequentes, em
sua marcha incessante, tragam aos cônjuges os resultados das próprias criações que
deixaram para trás. A mudança espera todas as criaturas nos caminhos do Universo,
a fim de que a renovação nos aprimore. A jovem suave que hoje nos fascina, para a
ligação afetiva, em muitos casos será talvez amanhã a mulher transformada, capaz
de impor­nos dificuldades enormes para a consecução da felicidade; no entanto, essa
mesma jovem suave foi, no passado – em existências já transcorridas –, a vítima de
nós mesmos, quando lhe infligimos os golpes de nossa própria deslealdade ou 
inconsequência, convertendo­a na mulher temperamental ou  infiel que nos cabe
agora relevar e retificar. O rapaz distinto que atrai presentemente a companheira,
para os laços da comunhão mais profunda, bastas vezes será provavelmente depois o 
homem cruel e desorientado, suscetível de constrangê­la a carregar todo um calvário 
de aflições, incompatíveis com os anseios de ventura que lhe palpitam na alma. Esse
mesmo rapaz distinto, porém, foi no pretérito – em existências que já se foram – a
vítima dela própria, quando, desregrada ou  caprichosa, lhe desfigurou  o caráter,
metamorfoseando­o no homem vicioso ou  fingido que lhe compete tolerar  e
reeducar. Toda vez que amamos alguém e nos entregamos a esse alguém, no ajuste
sexual, ansiando por não nos desligarmos desse alguém, para depois somente depois
surpreender nesse alguém defeitos e nódoas que antes não víamos, estamos à frente
de criatura anteriormente dilapidada por nós, a ferir­nos justamente nos pontos em
que a prejudicamos, no passado, não só a cobrar­nos o pagamento de contas certas,
mas, sobretudo, a esmolar­nos compreensão e assistência, tolerância e misericórdia,
para que se refaça ante as leis do destino. A união suposta infeliz deixa de ser,
portanto, um cárcere de lágrimas para ser um educandário bendito, onde o espírito 
equilibrado e afetuoso, longe de abraçar a deserção, aceita, sempre que possível, o 
companheiro ou a companheira que mereceu ou de que necessita, a fim de quitar­se
com os princípios de causa e efeito, liberando­se das sombras de ontem para elevar­ 
se, em silenciosa vitória sobre si mesmo, para os domínios da luz.


                                                                                                       EMMANUEL